terça-feira, 29 de setembro de 2015

Uma tarde entre muitos séculos passados


     Neste  ano,  tenho  a  tarde  livre  do  trabalho às terças-feiras. Com isso costumo passá-las num dos museus da cidade. Hoje, por exemplo, fui ao Victoria & Albert Museum, que é o meu preferido em Londres, por possuir um acervo extraordinário, muito bem organizado, e por não ser excessivamente grande. Gosto muito das seções dedicadas ao teatro, à fotografia e ao trabalho com o ferro. Mas hoje passei algumas horas numa parte dedicada à Antiguidade e à Idade Média.
     Aí  está  uma  parte  da  coluna  de  Trajano,  com  sua inscrição. Trata-se de uma construção monumental para celebrar o poder do imperador romano do século I da era cristã. Diante de tanta grandeza e tanta beleza, tenho sempre a sensação de que nossa civilização realmente perdeu muito ao submergir na postura sofredora e autopiedosa promovida pela religião, tal como constatou Nietzsche. E tanta grandeza e tanta beleza como que me convocam a não ser mesquinho e a não desperdiçar a vida em bagatelas.
     Em  nosso  último  encontro,  em  São  Paulo,  passamos uma manhã de domingo no MASP, que você visitou pela primeira vez. Foi muito bom percorrer, em sua companhia, as galerias com o rico acervo permanente do museu e ouvir seus comentários sobre muitas obras que ali contemplamos, além de lhe dar algumas informações históricas e alguma teoria da arte de maneira informal e leve. Espero que os lugares que preservam as grandes criações da humanidade façam parte de sua vida e que contribuam para torná-lo uma pessoa mais interessante e melhor.

sábado, 26 de setembro de 2015

Frases


     Nenhuma  sociedade  persiste  sem  grandes  frases. E todo indivíduo tem lá suas frases de efeito, própria ou alheia, que carrega consigo como se fosse um talismã. Nelson Rodrigues criou toda a ação da peça Bonitinha, mas Ordinária em torno de uma única frase, que é repetida exaustivamente e que muda a vida de todos os personagens: "O mineiro só é solidário no câncer". De Channing Pollock, outro dramaturgo, é outra frase cheia de verve: "O crítico é um homem sem pernas que nos ensina a correr". E me lembro do final do romance A Ponte de San Luis Rey, de Thornton Wilder, que termina com uma frase que funciona como uma chave de ouro: "Há uma terra dos vivos e uma terra dos mortos, e a ponte é o amor, a única sobrevivência, o único significado". Trotsky, ao ser ferido mortalmente, em seu exílio no México, por um assassino a serviço de Stálin, ainda teve tempo de dizer a seus guarda-costas, que agarraram o agressor: "Não o matem. Esse homem tem uma história para contar".
     Cresci com minha mãe dizendo frases guimarães-rosianas do tipo "Neste mundo não há o que não haja". E eu mesmo escrevi um livrinho de frases que tendem para a sátira ao edificante, ao convencional e à sabedoria de almanaque. E tenho, entre meus livros, vários dicionários de citações, de provérbios, de frases clássicas, além de colecionar alguns cartões-postais como este com a famosa frase do general e cônsul romano Júlio César.
     Me  lembro  de  uma  vez,  quando  você  devia ter uns quatro anos, em que eu organizava uma disputa entre meninos. A certa altura, disse que ganharia o ponto aquele que dissesse a frase mais difícil. Por alguns minutos, reinou o silêncio enquanto todos se punham a matutar na tal frase difícil. Até que você me veio com esta: "O doce mais doce de todos os doces é o doce de batata-doce". Não foi preciso nem esperar as frases dos outros. O ponto já era seu. "Filho de peixe..."

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Com Nelson Rodrigues

     Acabo  de  chegar  de  um  evento sobre Nelson Rodrigues na embaixada do Brasil em que fui um dos convidados para falar, juntamente com um neto de nosso genial dramaturgo, após a exibição do filme Vestido de Noiva. Foi muito interessante estar ali, diante de uma audiência em sua maioria de britânicos interessados na obra dele. Eles ouviram atentamente minha fala e depois me fizeram várias perguntas.
     É  sempre  um  prazer  tratar  da  vida  e  da  obra de um escritor pelo qual tenho paixão e com o qual tenho aprendido tanto a escrever e até a polemizar com bom humor. Ele foi grande conhecedor da alma humana e de aspectos profundos da nossa psique. E um mestre da frase de efeito. Além disso, também há em Nelson Rodrigues toda aquela brasilidade universal que admiro muito e que está na linguagem, no comportamento, nas paixões de seus personagens.
     Gostaria  muito  de  que  um  dia  assistíssemos  juntos  a uma encenação de alguma de suas peças. Quem sabe na minha próxima ida a São Paulo?

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Um telefonema inesperado

     Estava  hoje  em  minha  sala,  no  trabalho,  quando recebi um inesperado telefonema de representantes de uma universidade da China. Após alguma conversa sobre meus métodos de ensino e minha trajetória profissional e acadêmica, recebi uma proposta para ir trabalhar lá, recebendo um salário melhor que o que ganho atualmente. 
     Estou  bastante  insatisfeito  com  a  educação  mercantil e neoliberal daqui e desejo realmente mudar, mas meus planos são de retornar ao Brasil, provavelmente no decorrer do ano que vem. Porém, pressionado por responsabilidades financeiras com você e com minha mãe, além de ter projetos pessoais que dependem de um significativo aporte financeiro, considero a possibilidade de ir para literalmente o outro lado do mundo. Pode ser uma experiência interessante do ponto de vista de meu próprio aprendizado. E um constante desafio, pois não falo a língua do país, que me parece muito difícil.
     Pedi  duas  semanas  para  pensar a respeito e tomar uma decisão. A grande angústia nisso tudo é ficar ainda mais distante de você, podendo ir ao Brasil provavelmente apenas uma vez por ano. Mas o que se há de fazer? Viver é constantemente fazer escolhas.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Machucado

     Ontem  à  noite  fui  jogar  futebol  com  um grupo de amigos com quem me encontro toda terça-feira para uma partida. Tudo ia indo muito bem num jogo muito disputado em que eu estava fazendo várias boas jogadas e alguns gols, quando, já pelo final, meu amigo John-Paul, que jogava pelo time adversário, me tocou nas costas quando saltei para cabecear uma bola. Deslocado, quando  desci e tentei apoiar o pé direito no chão, ouvi um "crack" e disparei a gritar de dor. Um primeiro pensamento foi o de que tinha quebrado-o. Tive de ir ao médico dali mesmo. Felizmente verificou-se que não havia fratura. No entanto, torci violentamente o tornozelo, que está agora muito inchado e imobilizado. Não poderei andar normalmente por cerca de duas semanas e talvez leve mais uma para poder voltar a me exercitar e a praticar esportes.
     Se  minha  mãe me visse mancando fortemente como estou agora, por certo repetiria uma de suas frases: "Futebol é uma doença incurável!". Para ela, arriscar-me nesses jogos amadores é "caçar chifre em cabeça de cavalo". Mas eu não tenho muita paciência para o frisbee, o frescobol ou o cuspe à distância, esportes muito mais seguros. Portanto, continuarei me arriscando no esporte bretão aqui na Grã-Bretanha.
     A propósito, minha mãe há de adorar uma história de Winston Churchill. Quando ele completou 90 anos, um repórter lhe perguntou qual era o segredo da longevidade. Ao que o primeiro-ministro britânico respondeu: "O esporte, meu caro, o esporte... Nunca o pratiquei."
     Pena que esse acidente tenha acontecido justamente quando o ano letivo está se iniciando, e precisarei dar as minhas aulas. Gosto de ficar de pé e transitar em meio aos alunos, mas terei de ficar sentado à mesa por algum tempo.
     Na  noite  de  ontem,  quando  estava  em  casa, sentindo muitas dores e aplicando compressas de gelo no pé machucado, gostaria que tivéssemos conversado, mas você não estava disponível. Eu lhe contaria como aconteceu e o aconselharia a tomar cuidado em bolas divididas e carrinhos dos adversários em seus jogos.
     Em  realidade,  sinto  falta de jogar com você, como fazemos duas vezes por ano, quando viajo ao Brasil. Não me importo nem de ser o seu goleiro, tendo de ficar ali, debaixo das traves, tendo de defender centenas de chutes e até cabeceios. Recebo sempre algumas boladas, pois seu chute está cada vez mais forte, mas tudo bem, preciso treinar meu filho.

domingo, 13 de setembro de 2015

Saudade

     Nesta  manhã  calma  de  domingo,  meu  pensamento voa até São Paulo. A saudade aperta. Sinto falta de você e do Brasil. Gostaria que estivéssemos juntos.
     Nosso país passa atualmente por um momento de muita instabilidade, com esses vira-latas de classe média - manipulados pelo aparato midiático da oligarquia que ainda manda e desmanda - fazendo pressão para que ocorra um golpe de Estado, após seu candidato haver perdido as últimas eleições. A seu ver, o Brasil está para além do fundo do poço.
     Quem  viveu  no  Brasil  da  ditadura  e  das  décadas de 1980 e 90 sabe que o país mudou, em muitos aspectos, para melhor. É verdade que, no que tange a nossos problemas, ainda estamos mais ou menos como sempre fomos, cheios de questões sociais graves não resolvidas, com um Estado muito precário e uma casta dirigente ignorante e retrógrada. Mas nossas virtudes são muito maiores. Os nossos patrícios que consideram o Brasil um país de segunda categoria são pessoas que nunca viajaram ao exterior ou obtusos que o fizeram, mas que só viram as virtudes dos outros, ultravalorizando-as por comparação aos nossos defeitos. Estou seguro de que nosso país será bem melhor e lhe oferecerá mais qualidade de vida quando você chegar à idade adulta.
     Quero  voltar  e  me  reintegrar,  estar  próximo  de você, trabalhar em prol dos valores em que acredito. Espero que isso possa ocorrer logo. Não quero ser como alguns brasileiros que às vezes encontro no exterior, constantemente falando em retornar, mas sempre esticando seu exílio por mais alguns anos.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Dois presentes em nosso cotidiano


     Conversamos  hoje,  após  cerca de dez dias depois de meu retorno à Europa. Soube que você está indo bem na escola e que tem lá alguns bons amigos com quem conversa, brinca e joga futebol. E que em seus jogos você costuma ir com a camisa do Galo que lhe dei há cerca de um ano. Você me contou ainda que faz alguns gols, mas é muito bom na armação de jogadas e nas assistências para gols de seus colegas. Soube, por fim, que você foi a Minas no feriado prolongado de 7 de setembro e que tem mantido uma relação próxima com sua terra de origem, cultivando sua mineiridade em São Paulo.
    Por falar no Galo, tenho carregado aqui comigo, junto a minhas chaves, um presentaço que ganhei de você durante nosso último encontro, no fim de semana que passamos juntos, no começo de agosto. O chaveiro com a camisa do Atlético com que fui surpreendido tem agora me acompanhado por todo lado, em meu bolso, toda vez que saio de casa.
     Estou  me  lembrando  que entre três ou quatro presentes que lhe dei, havia uma pedra da Inglaterra, colhida na beira do mar, num domingo em que passeava pela cidade de Brighton. Você achou o presente muito original e gostou dele, dizendo-me que o colocaria sobre sua mesa de estudos, em seu quarto, para se lembrar de mim.
     Então  nossos  presentinhos (em realidade, presentaços) incorporaram-se ao nosso dia a dia e são agora um pedaço de cada um de nós na vida de cada um de nós.

sábado, 5 de setembro de 2015

Ainda o horror

     Agora  há  pouco  eu  estava  ouvindo  pelo  rádio um programa chamado "Manhã com Bach", buscando algum alento por meio da beleza em meu compositor favorito após escrever ontem sobre o garoto sírio afogado no Mar Mediterrâneo pela indiferença de todos nós. Já pelo fim do programa resolvo entrar no site de um jornal de São Paulo, para saber do que está se passando no Brasil. Como se a carga de imagens chocantes desta semana já não fosse insuportável, recebo como que um soco no estômago ao ler a notícia e assistir a um vídeo do que aconteceu na tarde de ontem nas escadarias da Catedral da Sé, no centro de São Paulo. 
     Um  criminoso,  portando  um  revólver,  fez  uma moça refém no local, agredindo-a seguidamente. Durante a ação, ele deu várias oportunidades para que a polícia resolvesse a situação extrema que tinha diante de si com um tiro que o matasse de imediato. No entanto, isso não aconteceu, e um homem da multidão invadiu o local e tentou lutar com o bandido, sendo alvejado por este no peito. Na confusão, a moça escapou, e, em seguida, o criminoso foi executado por vários tiros dos policiais. As duas mortes foram não somente um teatro para quem passava pela praça, como um espetáculo de mídia, tendo sido transmitido ao vivo pela tv e fazendo a alegria dos vampiros que apresentam programas pseudojornalísticos de fim de tarde, em que dão vazão ao pior sensacionalismo, urrando as opiniões mais reacionárias e fascistas para os cabeças de vento que os assistem.
     Espero  que  você  não  tenha  estado diante da televisão quando esse horror aconteceu, pois os outros canais não devem ter perdido a oportunidade de também exibirem ao vivo esse show da vida. Todos se lembram do caso do ônibus 174, no Rio de Janeiro. As imagens chocantes desta semana estão aí, sendo esfregadas em nossas caras até nos cansarmos, devendo ser substituídas por outras dentro de alguns dias ou semanas.
     Penso  agora  numa vez em que o levei ao centro de São Paulo, há alguns anos. Entre outros lugares, visitamos a catedral e sentamo-nos exatamente em suas escadarias, para descansar por alguns minutos. Poderíamos, então, ter sido espectadores daquele teatro macabro ou mesmo vítimas dele. O pior é saber que isso está acontecendo todos os dias pelo país, que a segurança pública é o grande fracasso de todos os níveis de governo, que esses fatos são excrescências lógicas e necessárias de um sistema social tão iníquo como o nosso. 
     Escrevi  ontem  que  a  imagem  do  menino  Aylan  morto daquela forma era uma prova de que a humanidade fracassou. Detesto pensar assim, cheio de desesperança, tristeza e desilusão. Porém os fatos estão aí, monstruosamente avassaladores.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Mortos ali


     O  que  dizer  diante  desta  imagem  que  há dois dias está na primeira página de todos os jornais diários do mundo? Grande parte desses mesmos jornais demonizam a imigração como responsável por todos os problemas hoje enfrentados pelos países "avançados", tirando o foco da oligarquia corrupta que os comanda e que é a verdadeira responsável por tais problemas, porém é a dona desses mesmos jornais. E estamos falando dos mesmos países que ajudaram a transformar o Oriente Médio no caos em que se encontra hoje.
     Leio  nessas  gazetas,  tremendo  de  raiva,  náusea  e melancolia, que esse horror aconteceu numa praia da Turquia e que o menino cujo cadáver ali veio ter, trazido pelas ondas, chamava-se Aylan e tinha 3 anos. No meio da noite de anteontem, ele e dois de seus irmãos caíram no mar quando a precária embarcação em que fugiam da guerra na Síria atravessava o mar Mediterrâneo, tentando chegar à ilha de Kos, na Grécia. Os jornais mostram ainda a devastação do pai do garoto, sobrevivente da calamidade que atinge seu país, sua família e todos nós. 
     Leio  ainda  que  há  tempos  esse  pai  vinha  solicitando refúgio ao governo do Canadá, onde vivem outros membros da família. Aquele país, que havia se negado a recebê-los como refugiados de guerra, agora, depois da tragédia acontecida, numa tentativa tardia de bancar o bom samaritano, anuncia que concederá não somente refúgio como cidadania aos membros sobreviventes da família síria. E o pai, numa atitude de grande dignidade, agora recusa a oferta dos beneméritos canadenses, para quem até bem pouco tempo ele, sua mulher e seus filhos eram apenas parte de uma estatística.
     Essa  imagem,  que  agora  me  traz  lágrimas  aos  olhos enquanto aqui escrevo, é uma prova incontestável de que a humanidade fracassou. Há meses temos visto governantes, demagogos e neofascistas europeus imporem todas as barreiras e todas as dificuldades à entrada desses "indesejáveis" que aqui chegam fugindo de tiranos e fanáticos na Síria e na Líbia. Tratam-se dos mesmos países que tiveram populações inteiras emigrando para a América em tempos de crise econômica e guerras ao longo do século XX, dos mesmos que até pouco tempo deram apoio a tiranos que serviam a seus interesses. Justamente os que furam os olhos das pessoas reclamam de sua cegueira.
     Ao  ver  a  imagem  desse  menino  morto  pela indiferença dos que medem a vida humana por PIB, taxa de emprego, juros, superávits e déficits, sinto como se eu também estivesse morto ali. Todos nós estamos mortos ali.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Um plano para o Rio de Janeiro

     Volto  para  casa  após mais uma extensa viagem sobre o Atlântico. Já passa da meia-noite em Londres e estou cansado. Estive no Rio de Janeiro nos últimos cinco dias. No fim de semana, caminhando pela orla da praia de Ipanema, perto de onde fiquei hospedado, pensei que a cidade é um bom lugar para visitarmos juntos. Na minha próxima ida ao Brasil, quem sabe possamos passar um fim de semana nesse lugar que está em nosso imaginário - com toda a justiça - como a "cidade maravilhosa", bela por excelência? 
     Houve  um  momento  em  que parei para ver uma dessas rodas de capoeira de rua que são uma aula de democracia, da qual participam igualmente negros e brancos, gordinhos e magros, sedentários e atléticos, homens, mulheres e crianças. Embora os membros do grupo jogassem muito bem, inclusive os meninos, quem estivesse em volta e desejasse participar daquela fantástica mistura de luta, canto e dança era sempre bem-vindo. Eu mesmo fui puxado para a roda pelo mestre, vindo a girar meus pés no ar, sobre a cabeça do oponente, dar rabos de arraia e a tentar me equilibrar com as mãos no chão e os pés para cima. Como não sou muito bom nessa arte, cheguei a perder o equilíbrio algumas vezes, mas foi divertido.
     Me  recordo  de  uma  foto  de  vários  anos  passados, quando você tinha três ou quatro anos, em que estamos jogando capoeira juntos. Você apoia as mãos no chão e projeta a perna direita levantada sobre minha cabeça, que obviamente tive de abaixar muito.
     Depois  de  ver  e  participar  da  capoeira  carioca, passei a caminhar pela areia, junto ao mar, debaixo de um sol quente. Foi então que me dei conta de que sou um dos pouquíssimos brasileiros que não gosta de praia. O mar definitivamente não me atrai. Não gosto de tomar sol (e com minha morenice, nem preciso) nem de ficar impregnado de sal pelo corpo. Há vários anos, vivi um ano e meio em Montevidéu, a uma quadra da praia, sem nunca ter entrado naquele mar. Sinto-me bastante mais à vontade na montanha, no deserto, nas vastas planícies, nas estepes, nos cânions. Para piorar a reputação do mar entre minhas afinidades, não sei nadar muito bem. Mas o Rio de Janeiro é muito mais que a bela baía que passeia por entre tantas montanhas, proporcionando uma paisagem de folhinha para cada lado que se olhe. Gosto muito de passear pelo Rio antigo, de visitar os museus da cidade, de ir ao Maracanã numa tarde de domingo, de ouvir o sotaque carioca com seus “s” chiados. Parece que já temos um programa para o próximo verão.