quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Saudades de São Paulo

     Outro  dia  eu  escrevia  aqui  sobre  minhas  saudades de Minas. Hoje, no entanto, eu estava correndo no fim de tarde e ouvia ao telefone uma seleção de sambas paulistanos de Adoniran Barbosa, o que resultou em fundas saudades de São Paulo. O grande compositor tratava sempre da vida dos pobres da cidade de forma tragicômica. No trânsito pela Pauliceia, que eu já cruzei de cima a baixo, seja caminhando pelas ruas e parques, seja em meio ao descalabro do deslocamento em ônibus ou metrô, eu sempre cruzava com muitos personagens das canções de Adoniran. Eles inclusive falavam com o forte sotaque italianado e a muito expressiva linguagem "errada" do compositor popular.
     Meus  amigos  paulistanos  acham  que  estou  brincando quando lhes digo que São Paulo é a melhor cidade do mundo. Embora também a considere uma das mais feias, uma das mais poluídas e uma das mais infernais do mundo, é também uma das mais fascinantes, e sou sincero em meu julgamento. Ao ouvir os sambas de Adoniran enquanto corria, vinham-me à mente os lugares que ele mencionava: Viaduto Santa Ifigênia, Brás, Morro da Casa Verde, Morro do Piolho, Jaçanã, Av. São João, Av. 23 de Maio, Praça da Bandeira, Alto da Moóca, Ermelindo Matarazzo... A maioria deles localiza-se na região central, com deslocamentos para a periferia distante. É onde há muito mais vida e onde São Paulo é muito mais interessante, diferentemente dos Higienópolis, Vila Olímpias, Moemas, Berrinis, Oscar Freires e Alphavilles da vida, com sua mediania e sua falta de humor.
     Dentro  de  mais  algumas  semanas,  chegarei  a  São Paulo e irei correndo visitá-lo depois de quase dois anos sem vê-lo. Sem dúvida andaremos por alguns lugares da geografia de Adoniran Barbosa e entraremos em contato com pessoas muito interessantes. E no início do ano que vem espero poder voltar a viver aí.

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