Há alguns dias eu escrevia aqui sobre o protagonismo que os ignorantes, preconceituosos e excludentes vêm adquirindo na cultura online e que já tem tido consequências políticas muito sérias na forma da eleição de políticos e plataformas que se sustentam exatamente na ignorância, no preconceito e na exclusão. Uma consequência natural desse estado de coisas é a aversão à inteligência que estamos assistindo hoje no mundo inteiro e que no Brasil assume uma de suas expressões mais grotescas.
Desde muito pequeno, cresci admirando as pessoas inteligentes e talentosas, sendo estimulado a me inspirar nelas e a levar a sério os meus estudos, pois o conhecimento era a única maneira de navegar por este mundo com qualidade e poder inclusive transcender minha condição social de membro de uma família pobre em uma cidade provinciana e desimportante. Meus professores, que eram as pessoas de saber formal mais próximas de mim, eram pessoas extremamente respeitadas.
O que eu jamais imaginei é que chegaria um dia em que o saber em sua dimensão crítica seria tão vilipendiado, que intelectuais críticos seriam atacados bestialmente online e insultados nas ruas, que artistas, cientistas, pesquisadores seriam identificados como "vagabundos", que ostentar a burrice, a ignorância e os preconceitos tornasse alguém popular em seu círculo de amizade e angariasse muitos votos para políticos populistas de todos as tendências ideológicas. E pensar que já há mais de 25 séculos Platão propôs que fôssemos governados por um rei-filósofo, que até recentemente ser talentoso ou esforçado era uma distinção muito atrativa!
Claro que essa voga da obtusidade é passageira e típica de um momento de grave crise como o que estamos vivendo. Por isso espero que você não se deixe levar por essa onda de tapados, que valorize seus estudos, a crítica de seus valores, as trocas intelectuais e os diálogos em que se fala e se ouve (fale menos, ouça mais). E que os homens e mulheres que reverencia sejam as pessoas inteligentes que realmente fazem diferença neste mundo.
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