domingo, 20 de novembro de 2016

Da cultura online


     Tudo  indica  que  estamos  vivendo  o  fim  de  uma  era e o nascimento de outra. Eu ainda sou de uma geração que se educou lendo livros e revistas impressos, ouvindo discos de vinil, assistindo a filmes no cinema, indo ao teatro, sonhando em possuir uma grande biblioteca. Meus professores eram autoridades intelectuais que eu respeitava e admirava. Tinha horário marcado em casa para estudar diariamente e sempre encontrava meus amigos pessoalmente, sendo as ruas, praças, campos de futebol e escolas lugares muito importantes onde minha geração vivenciava sua sociabilidade.
     Hoje  tudo  se  faz  pela  internet.  O  computador  e  o telefone celular se transformaram nos grandes mediadores da educação e da sociabilidade das novas gerações (e também da minha, pois quase todos tiveram de se adaptar aos novos tempos). Muitas vezes admiro uma figura como a minha mãe, que ainda vive em outra época. Não sabe mexer no computador, não entende nada de telefones celulares sem teclas e uma vez até achou que se tratava de algo condenável quando lhe perguntei o que ela faria se pegasse o meu sobrinho twittando por aí.
     Você  já  nasceu  na  era  da  internet  massificada  e inclusive tem com ela uma relação diferente da minha. Nada tenho contra os avanços tecnológicos. No caso da internet especificamente, só desejo que você venha a ter com ela uma relação crítica e ponderada, já que ela é ao mesmo tempo uma expressão do gênio e da bestialidade humana. Se considerarmos apenas o Youtube, por exemplo, quantos filmes extraordinários, quantos programas fantásticos produzidos no mundo inteiro, quantos vídeos originais... e ao mesmo tempo quanta tolice, quanta mentida difundida como verdade, quanta vulgaridade!
     Algo  que  sempre  me  irrita  é  como  as  pessoas  mais desqualificadas hoje em dia pensam que são obrigadas a ter opinião sobre tudo, emitindo juízos absolutamente desprovidos de conteúdo e raciocínio crítico. O pior é que parecem ter a ilusão de que isso é democracia e participação política. Ainda pior é o anonimato a proteger a boçalidade dos racistas, dos sexistas, dos fascistas, dos fanáticos de todos os matizes. Há muito deixei de ler essas pérolas da estupidez humana e decidi ficar fora das redes sociais. Preferirei sempre empenhar o meu tempo na companhia dos livros e do estudo no sentido clássico do termo. 
     Você  também  está  fora  das  redes  sociais,  e  o  livro é seu companheiro frequente. Isso já é muita coisa para que se eduque para lidar de forma inteligente com essa cultura online na medida em que for crescendo e adquirindo sua independência.

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